Engenhosidade humana supera falha geológica na recuperação do túnel da Usina Fundão

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No sudoeste do Paraná, entre Foz do Jordão (PR) e Pinhão (PR), a Usina Hidrelétrica de Fundão destaca-se como um marco da engenharia brasileira. Localizada na bacia do rio Paraná, sub-bacia do rio Iguaçu, no curso do rio Jordão, a usina aproveita uma queda natural em uma curva em “U” do rio para gerar energia. Recentemente, a usina enfrentou um dos maiores desafios de sua história: a recuperação de um túnel vital que colapsou devido a uma falha geológica antiga.

O colapso anunciado

Em 2004, durante as escavações iniciais, uma falha geológica já havia sido identificada no túnel de adução, com 3,8 km de extensão e seção arco retângulo de 9,4 metros. Esse túnel conecta o reservatório à câmara de carga da usina, sendo essencial para o fluxo de água que movimenta a turbina Francis de 61 MW localizada na casa de força. No final de 2020, uma discrepância nos níveis de água acendeu o alerta. “Notamos que algo não estava certo. A diferença nos níveis indicava problemas”, relata Emerson Luís Alberti, representante da Elejor – Centrais Elétricas do Rio Jordão S.A., responsável pelo Complexo Energético Fundão Santa Clara, que segue padrões rígidos ambientais e sociais.

A suspeita se confirmou após o uso de um Remotely Operated Vehicle (ROV), um robô subaquático controlado remotamente. A tecnologia foi essencial para mapear o interior do túnel e identificar os pontos de obstrução causados pelo desmoronamento, que bloqueava parcialmente o fluxo de água ao longo de 50 metros. “O ROV nos mostrou que a falha geológica havia provocado um colapso significativo, exatamente na porção já conhecida”, explica Alberti.

Planejamento diante do imprevisível

Diante da gravidade, a Elejor iniciou um planejamento meticuloso em agosto de 2020. “Partimos sempre pensando no pior cenário, de forma conservadora, como se a desgraça estivesse ali mergulhada”, comenta Alberti, ressaltando a cautela necessária.

A recuperação do túnel exigiu o uso de tecnologias avançadas. A Pedra Branca Escavações, empresa responsável pela obra, utilizou máquinas controladas remotamente para garantir a segurança dos trabalhadores em áreas de risco, como uma escavadeira CAT 330 de 30 toneladas e uma pá carregadeira CAT 950. “Tivemos que usar explosivos dentro de um túnel colapsado, algo que nunca é ideal, mas os cálculos de engenharia nos deram a confiança para avançar”, ressalta Alberti. O uso dos explosivos fragmentou os blocos maiores de material, facilitando a remoção dos detritos.

Parcerias que fazem a diferença

A decisão de empregar tecnologia de ponta e métodos não convencionais foi fundamental para o sucesso da obra. “A Pedra Branca foi decisiva naquela composição”, afirma Alberti, destacando a importância da colaboração. O apoio do Tribunal de Contas e dos acionistas da Elejor também foi crucial. “Ter órgãos reguladores e investidores que entendem a gravidade e confiam nas decisões técnicas faz toda a diferença”, pontua.

Durante a obra, aproximadamente 3.600 metros cúbicos de rocha foram removidos. Após a eliminação dos detritos, realizou-se o reforço estrutural do túnel. O arco e o teto foram reconstruídos, recebendo concreto adicional para prevenir novos desmoronamentos. Com isso, a pressão da água no túnel foi otimizada, elevando a coluna d’água de 9 para 9,5 metros e aumentando a eficiência na geração de energia.

A robustez estrutural da usina

O complexo da Usina Fundão possui uma barragem de gravidade composta por 25 blocos de concreto compactado a rolo (CCR), incluindo um vertedouro em soleira livre e uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de 2,5 MW de potência. Uma galeria de drenagem com 47 metros de comprimento percorre a base da estrutura, garantindo a drenagem adequada entre as margens direita e esquerda do rio. “A robustez da barragem, aliada às melhorias recentes, assegura que a usina continue operando com segurança e alta eficiência por muitos anos”, destaca Alberti.

Reflexões sobre o futuro energético

A Usina Fundão, em conjunto com a Usina Santa Clara, desempenha papel essencial na regulação de tensão no sistema elétrico do sudoeste do Paraná. Mais do que uma vitória técnica, a conclusão dessa obra representa um marco na infraestrutura energética regional.

A recuperação do túnel também traz uma reflexão: até que ponto estamos preparados para lidar com os desafios impostos pela natureza e pelo tempo? O episódio reforça a necessidade de investimentos contínuos em manutenção, tecnologia e, sobretudo, em parcerias que unem conhecimento e determinação.

A engenharia como protagonista

Emerson Alberti faz questão de enaltecer o papel da engenharia nacional. “Projetos como esse mostram que temos capacidade técnica para resolver problemas complexos. A sociedade e o mercado podem confiar na nossa engenharia”, afirma.

Sobre a Elejor

A Elejor – Centrais Elétricas do Rio Jordão S.A. foi criada em 2001 pela Companhia Paranaense de Energia S.A. (Copel) e pela Paineira Participações e Empreendimentos Ltda. A empresa opera o Complexo Energético Fundão Santa Clara com rígidos compromissos ambientais, promovendo grandes benefícios ecológicos, integrando diversos municípios e gerando renda.

Com uma produção de cerca de 1.229 GWh/ano, a Elejor fornece energia elétrica para aproximadamente 600 mil habitantes. Além disso, a empresa desenvolve ações globais para a redução dos gases de efeito estufa, sendo responsável pela diminuição de aproximadamente 330.000 toneladas de CO₂ por ano, o que equivale à preservação de 17,5 milhões de árvores anualmente.

O incentivo à arte também compõe o perfil da Elejor, que oferece oportunidades para profissionais e artistas mostrarem seus trabalhos e aprimorarem suas habilidades. São ações que fazem a diferença e consolidam a empresa como um exemplo de sucesso em empreendimentos de larga escala e de capital intensivo.

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